Eu vivo para criar. Eu crio para viver.
Eu Estou Viva, custe o que custar. Essa narrativa sou Eu Quem Escolho.
Ser escritora e trabalhar com tecnologia muitas vezes é uma coisa Clark Kent e Superman. A melhor versão sua, ainda que pareça intrínseca e só separada por um óculos, não é óbvia para quem trabalha com você. É preciso ter uma versão diminuta e doente de você para caber nessa fórmula capitalista do trabalho. Seu grande eu, precisa ser um minúsculo você.
E o tema da News do Fim do Mundo de hoje é esse: Como a sociedade capitalista precisa diminuir e minar suas vítimas para que nunca entendam que essa é a melhor forma de alimentar seus burgueses já assoberbados.
Afinal, você provavelmente trabalha para um dos caras mais ricos do Brasil, em algum nível super tercerizado.
Minha engrenagem, entendam, já é gasta. Trabalho para os outros desde 2011, mas ainda antes disso eu percebi que eu e minha família éramos só mais um pedaço da grande máquina exploradora dos pobres no interior de Minas Gerais. Uma máquina encabeçada por latifundiários que nunca foram perturbados e que até hoje vendem suas terras, que nunca foram verdadeiramente suas, para a Noruega. E andam de jatinho para trajetos que demorariam meia hora de carro.
Eu sempre questionei, mas sempre abaixei a cabeça porque precisava de uma modesta quantia para alimentar a mim e a quem dependia de mim. Os pensamentos materialistas-históricos sempre foram silenciados quando meu estômago roncava ou o meu tênis perdia o solado no meio da rua. É difícil fazer política com fome.
You were brave, with a free-talking mind
And a voice that is still a cry for life!
And no matter what we want, we want to be loved!
Yes, we were here – we were afraid!
We paid them for the right to commit our own ego’s suicide
But I believe it’s just a ride!
Rishloo - Just a Ride
Semana passada, contudo, esses pensamentos voltaram à tona. Ouvi, depois de quase 6 anos no cargo que executo, que minhas ações são juniores, de principiante.
Respirei fundo. Observei a parede branca atrás do computador. Tenho 6 anos de carreira no meu cargo. 12 anos de experiência com tecnologia. É isso que escuto.
Ulisses ordena seus marinheiros usarem cera nos ouvidos, para não ouvir o canto das sereias. O capitalismo não é assim tão diferente.
Essa máquina irá sempre sugar tudo de mim e me colocar no espaço performático de menor valor. Faço sempre muito, em dois idiomas, ganho sempre o mínimo. Tenho quase 30 anos e me aproximo do que o mercado chama de “idade fértil”, onde já era esperado eu ter meus órgãos internos esmagados por um feto e/ou um marido medíocre como filho. Não recebo mais tantas propostas de trabalho, não sou mais contabilizada para promoções ou chamada para apresentar resultados. Sou menos do que esperavam e com a grande sombra do etarismo me aguardando atrás da porta. O que esperam de mim é um endereço para me mandar um babador infantil com a logo da firma.
Tudo isso passa pela minha cabeça enquanto ouço, pelos meus fones de ouvido que considero meu patrimônio de maior orgulho, que minhas atitudes são insípidas. Atitudes que me fazem perder feriados e horas de descanso, atitudes que me levam sacrificar tempo que era para meus livros, para atualizar planilhas.
Eu Caçadora de Mim
Mas sabe, eu voltei a jogar RPG, estou aprendendo a comer sem culpa e estou escrevendo todos os dias. Vou relançar o livro que mudou minha vida e lançar o segundo livro das Noivas. Afinal, minhas histórias me alegram e acalmam meu coração, são peças essenciais do meu tratamento terapêutico.
Nada a fazer senão esquecer o medo
Abrir o peito à força numa procura
Longe se vai sonhando demais
Mas onde se chega assim?
Vou descobrir o que me faz sentir
Eu caçador de mim.
Milton Nascimento
Porque escrever me coloca no lugar que eu quero: um lugar de criação e amor sinceros. Eu amo criar e escrever. Das minhas histórias mais malucas, meus poemas tristes, meus contos autobiográficos, passando pelas fanfics secretas e pelos turnos de RPG, eu amo escrever cada uma dessas coisas. Escrever é a minha resposta ao Absurdo, é a minha resposta a esse mundo capitalista de merda: Eu existo e eu sou grande. Ah, mundo, eu sou grande pra caralho.
Eu quando fazia vídeos pra falar de Das Fitas Vermelhas, há 3 anos.
Criar é uma parte de mim feita de pura resistência, calor e pulsão de vida. Eu não quero mais morrer, desde que seja capaz de criar. E criar sempre.
Sempre que me lembro que sou escritora, eu me lembro que Eu Estou Viva.
Recomendação de música da semana
Além das múscas que citei aqui, estou muito numa vibe Eyes On Fire de Blue Foundation como toda garota que não superou a trilha sonora de Crepúsculo, e entrei numa vibe de músicas parecidas. Tô gostando.
Recomendação de Livro da Semana
Estou muito feliz de ter descoberto esse livro nacional essa semana. Ainda é cedo pra falar se amo, mas com 30% já estou comprada e querendo saber o que vai acontecer (inclusive assim que eu terminar de escrever essa news vou retomar a leitura). Semana que vem ou depois eu volto pra falar se valeu o hype, mas se você gosta da Primeira Guerra Mundial e vampiros igual eu, compre agora!
https://a.co/d/6NXOhNm
Obrigada por ler até aqui e se o mundo não acabar nos vemos semana que vem.
Não se esqueça das regras básicas de sobrevivência:
Carregue seu fone bluetooth
Lembre-se de consumir no mínimo 20g de proteína diariamente
Se você está se questionando se um cara gosta mesmo de você, é porque talvez ele não goste.
Obrigada. Vamos nos manter vivos e criar sem medo, beleza? Até semana que vem.
Aplaudi cada linha, como sempre inspirador e necessário <3